O restaurante fica na cidade alta, com 50 anos de história.
Com um cardápio dos áureos tempos, o dono nos recepcionou muito sorridente e acolhedor. Estava organizando umas notas, como que cuidando da contabilidade.
Chegamos bem cedo, próximo de 11h, horário que abre o estabelecimento. Logo pedimos algumas informações completares e falamos sobre um dos pratos principais, mas o dono disse “hoje estamos sem a carne”. Resolvemos então, pedir o prato executivo, pois cada um de nós três poderia escolher algo que desejasse.
A comida simples, boa, sem o algo extraordinário, mas ficamos satisfeitos afinal, pois no decorrer no almoço, éramos os únicos clientes por 1h, fomos conversando com o dono do lugar, que nos servia, sendo ele mesmo que fez nosso almoço, nos atendeu na mesa, nos recepcionou, serviu a bebida e o gelo.
Nesse vai vem, fomos conversando e conhecendo um pouco da história dos 30 anos em que o proprietário adquiriu o restaurante, nos resquícios dos áureos tempos Zona Franca, onde possuía 11 funcionários, e atendia o público no almoço e jantar, tempo de casa cheia. E então veio o esvaziamento de tempos de crises no governo, na economia e… sem julgamento de valor, que segundo nosso master chef, seu maior impacto foi o congelamento das contas bancárias, onde ficou com dificuldade para saldar as dívidas, que só aumentavam, somavam-se os processos postos pelos funcionários, momento em que se viu forçado a vender bens e imóveis para quitar as indenizações.
Hoje, ainda mantêm o restaurante aberto com dificuldades, mas ouvindo e vendo a narrativa desse empresário, pude perceber um pouco do espírito empreendedor, que se mantém, ainda que cambaleante. Conforme as palavras dele “não podemos desistir, temos que continuar, mas não é fácil”.
Senti algo, que… foi mais que uma experiência gastronômica, mexeu com nossa sensibilidade ver alguém que ainda se mantêm de pé mesmo com todas as ameaças… de concorrentes, inovações não aplicadas, falta de renovar os conhecimentos de gestão, buscar novas parcerias… sejam quais forem os motivos essenciais, não tivemos a “audácia” de pagar no cartão, o pix foi unânime, como que dizendo a nós mesmos, não podemos fazer muita coisa, mas se é o que está ao nosso alcance, então assim o faremos.
Pagamos, com alguns reais em acréscimo – nossa gorjeta voluntária – e saímos de lá com uma sensação de “o mundo real” do empreendedor, as lutas diárias estampadas naquele sorriso misturado com um pouco de constrangimento.
Apesar de tudo, saímos melhor que entramos, a empatia se renovou hoje.
O local tem grande potencial, a vista é maravilhosa, é ventilado, tem lugar para estacionar… quem dera pudéssemos sentar e conversar: o que deu certo, o que precisa melhorar, quanto precisamos para revitalizar esse lugar? Mas não é tão simples assim.
No fim do dia, me sinto bem pela experiência vivida com minha família, o dia foi incrível. Mas ouvir a história desse empresário me marcou significativamente. Desejo que ele consiga encontrar uma solução para manter e melhor seu restaurante para que possamos encontra-lo em funcionamento daqui a mais 30 anos.
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